DOE 15/01/2025 - Diário Oficial do Estado do Ceará

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DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO  |  SÉRIE 3  |  ANO XVII Nº010  | FORTALEZA, 15 DE JANEIRO DE 2025
a primeira grande mudança é que o protagonismo passa a ser dos estudantes e eles planejarão, junto aos professores, para onde querem ir, que tipo de seres 
humanos precisa-se formar e que metodologias são necessárias para o desenvolvimento dessas competências e virtudes.
Outro pilar fundamental é a crença de que os conteúdos escolares devem incorporar os saberes prévios dos alunos, saberes de experiências feitos, como 
defende Paulo Freire (2010), conhecimentos trazidos de cada estudantes, levando em conta seus contextos sociais e familiares que precisam ser valorizados. 
A escuta dos aprendizados que cada um traz consigo leva à construção de vínculos entre professor e estudantes, gerando um importante clima emocional de 
abertura para que os estudantes também possam ouvir melhor o que o professor tem a dizer. Não se pode negligenciar o estudo por projetos e o estudo em 
pequenos grupos com o uso adequado da internet, que é o que se chama de sala de aula invertida.
Já existem várias pesquisas que demonstram que os professores que utilizam uma metodologia ativa e participativa fomentam um melhor conhecimento cogni-
tivo e desenvolvimento das competências socioemocionais. A construção de vínculos e o cuidado com os relacionamentos interpessoais, o desenvolvimento 
da cooperação, da empatia, da solidariedade e da comunicação além de garantir um clima escolar para a aprendizagem também gera as competências neces-
sárias para o ingresso no mundo do trabalho, para a construção de uma família, e, nessa perspectiva, para transformar o mundo num lugar melhor para todos.
Todos os seres humanos precisam de atenção, precisam sentir-se pertencentes e capazes de construir relações humanas saudáveis e os ambientes educacionais 
precisam estar atentos a essas necessidades psicossociais. A maioria dos relatos de suicídio e de homicídios estão vinculadas à necessidade de pertencimento 
não atendidas. Nosso papel, enquanto educadores, é desenvolver estratégias de acolhimento e de estímulo à aprendizagem cognitiva, vinculadas às compe-
tências socioemocionais e à educação para Paz e para os Direitos Humanos.
Para Ovejero (2018), a construção do conhecimento com carga afetiva de valorização dos estudantes e de suas palavras faz com que desabroche o que há 
de melhor nos estudantes, eles vencem o medo e a vergonha de falar em público e, assim, organizam melhor o pensamento e a assimilação dos conteúdos 
universais. É importante lembrar que a escola e a universidade são um grande laboratório social. As experiências negativas de violências físicas ou simbólicas, 
de maus-tratos psicológicos, de bullying ou de sentimentos de exclusão influenciam no momento da aprendizagem cognitiva e, por vezes, nas aprendizagens 
para o resto da vida.
Por isso, é preciso trabalhar para o desenvolvimento das competências socioemocionais, integrada à educação para a Paz e vivenciar relacionamentos inter-
pessoais que facilitem o desabrochar da melhor versão de cada um. Então, a pergunta é: Como educar para que todos tenham vez e voz? O desenvolvimento 
das competências socioemocionais garantindo atividades criativas, jogos cooperativos e solidários pode tornar as pessoas mais felizes e saudáveis. Desta 
forma simples e consistente, com trabalhos de equipe bem estruturados, com a escuta da história de vida dos alunos e o cuidado com a segurança e o equilíbrio 
emocional intra e interpessoal, pode-se construir práticas educativas que gerem prazer, alegria de aprender e de viver.
É necessário abrir a porta do campo educacional, para as famílias e comunidade do entorno, compreender que ela deve ser cuidada por todos. O engajamento 
coletivo e a formação de comunidades de aprendizagem formará uma nova escola para o novo milênio.
5.2 As Competências Socioemocionais, a Cultura de Paz e os quatro pilares da educação da Unesco
A importância da formação integral, que inclui todas as dimensões dos seres humanos e a preparação para a vida, é tema bem antigo. Já na Grécia Antiga, 
o Oráculo de Delfos prescrevia em uma inscrição, na entrada do templo, a relevância do autoconhecimento e do autocuidado – “conhece-te a ti mesmo e 
conhecerás os Deuses e o universo”. Na história da educação no Brasil e no mundo, muitos teóricos defendem o educar para a vida. Anísio Teixeira, no 
Manifesto dos Pioneiros, em 1932, já apontava que a maior missão da escola deveria estar ligada à preparação do estudante para os problemas da vida coti-
diana. Desta forma, o protagonismo estudantil e o envolvimento de todos que fazem a escola no desenvolvimento do Projeto Pedagógico (PP) e do regimento 
interno devem levar em consideração o desenvolvimento das competências cognitivas e socioemocionais correlacionadas com a educação para os Direitos 
Humanos, a Cultura de Paz e para a Justiça Restaurativa.
Há mais de duas décadas, o Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, presidida por Jacques Delors, que foi 
elaborado em 1996 e publicado como livro com o título Educação: um tesouro a descobrir em 1999, incentiva uma educação voltada para quatro pilares 
– aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser – na tentativa de integrar os conteúdos escolares com as competências socio-
emocionais e a Cultura de Paz.
O primeiro pilar, denominado aprender a conhecer, compreende, antes de tudo, aprender a aprender, exercitar a atenção, a memória e o pensamento, dentre 
outras habilidades relacionadas com a internalização dos conteúdos que compõem os currículos escolares, combinando uma cultura universal com a cultura 
local, sem perder de vista a cultura enciclopédica. De acordo com Antunes, “Pretende-se assim despertar em cada aluno a sede do conhecimento, a capacidade 
de pesquisar cada vez melhor e a vontade de desenvolver dispositivos e competências intelectuais que lhes permita construir suas próprias opiniões e seu 
pensamento crítico.” (ANTUNES, 2010, p. 16).
O segundo pilar é o aprender a fazer, que, de forma indissociável do aprender a conhecer, se refere à prática dos conhecimentos teóricos e está muito rela-
cionado à formação técnico-profissional. O mundo do trabalho está substituindo a exigência de uma qualificação meramente técnica pela necessidade de 
competências como a capacidade de se relacionar melhor com as pessoas, de se comunicar com assertividade e empatia, de trabalhar em equipe, de gerir e 
resolver conflitos. Habilidades que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas.
O terceiro pilar, aprender a viver juntos ou conviver, é considerado um dos maiores desafios da educação atual. Aprender a dialogar, trocar argumentos e 
opiniões diferentes sem ser agressivo, mas, ao mesmo tempo, sendo assertivo, é uma aprendizagem indispensável à educação do século XXI. Essa aprendizagem 
tem ligação com a Cultura de Paz que prevê a educação como veículo da tolerância e compreensão do outro, ferramentas essenciais para a construção da Paz.
O quarto pilar, aprender a ser, tem como princípio que a educação deve ser integral e contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito, corpo 
e mente. O estímulo das múltiplas inteligências, a sensibilidade, a afetividade, o sentido estético, a responsabilidade, a espiritualidade e a criatividade são 
também tarefas da escola e são os mesmos princípios da educação para os Direitos Humanos e para a Cultura de Paz.
Os Círculos de Construção de Paz trazem contribuições para o fortalecimento de todos os quatro pilares, principalmente, o aprender a conviver. Eles promovem 
uma nova forma de se relacionar com as pessoas no ambiente escolar, assim como uma melhor maneira de lidar com os conflitos. Ao trabalhar os valores 
humanos como o respeito, a empatia, a confiança, a amabilidade – utilizando o bastão da palavra, que permite que todos sejam vistos, que ninguém fique 
invisível e que todos tenham oportunidade de participar e, assim, tenham vez e voz – o Círculo de Construção de Paz cria um espaço seguro e educativo para 
que a aprendizagem da boa convivência humana seja vivenciada e aprendida.
O ambiente educacional precisa estar atenta para o desenvolvimento das competências socioemocionais caso queira formar profissionais mais acolhedores e 
humanos, solidários às causas sociais; professores amorosos, críticos e criativos, em vez de professores que reproduzem a ordem social vigente e colaboram 
para a manutenção do status quo de uma sociedade neoliberal, escravocrata e polarizada. Enfim, profissionais que prezam pela própria coerência existencial, 
que sejam exemplo de pessoas com as competências socioemocionais desenvolvidas. E assim, pela pedagogia do exemplo, sejam pessoas que praticam na 
vida cotidiana os princípios da Educação para os Direitos Humanos e para a Cultura de Paz.
Para Peterson (2018), o desafio de trabalhar com as competências socioemocionais exige seriedade e rigor. Neste novo século, que está cada vez mais 
complexo e interconectado, em que a maioria das pessoas são consumidores atrofiados na habilidade de produzir conhecimento por passarem mais tempo 
recebendo informações que nem sempre são positivas, tem-se mostrado importantíssimo aguçar a criticidade, a capacidade de raciocinar e interpretar as ideias.
Nos Encontros do G20 (Grupo dos 20) que aconteceram durante o mês de novembro de 2024 em todo Brasil, foi observado que esses pilares e a educação para 
a Cultura de Paz e os Direitos Humanos foram fortalecidos e referenciados nos documentos e anais deste valoroso momento. O G20 é um fórum internacional 
de cooperação econômica fundado em 1999. Trata-se de um grupo dedicado ao diálogo entre os principais países desenvolvidos e emergentes, e não de um 
bloco econômico formal. É composto por 19 países e por dois blocos regionais: a União Europeia e a União Africana.
Ressalta-se, ainda, que o Encontro da Educação Global (GEM) que também ocorreu em novembro de 2024, promovido pela Unesco, a Educação para os 
Direitos Humanos e Cultura de Paz foi amplamente debatida em todas as salas. A seguir, apresenta-se as recomendações que estão presentes nestes docu-
mentos que cita a relevância de trabalhar essas temáticas em todas as instâncias.
O Guia das 14 Recomendações para a Educação para a Paz, Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentável da Unesco em 2024. As políticas educacio-
nais, programas, atividades e estratégias que devem estar presente em todos os currículos formal, não formal e informal, devem levar em consideração a 
seguintes dimensões:
1. Avançar na busca da equidade;
2. Respeitar a diversidade e valorizar a inclusão;
3. Trabalhar a não discriminação;
4. Ser baseada nos Direitos Humanos;
5. Promover educação de boa qualidade e com a acessibilidade para todos;
6. Contextualizar o cuidado com as etnias e a busca de solidariedade com todos os povos;
7. Garantir a saúde física, emocional e mental de todos os professores e demais profissionais da educação;
8. Continuar valorizando a transformação ao longo de toda vida, não tendo preconceitos etários;
9. Promover a cocriação e o conhecimento em todas as modalidades;
10. Valorizar a liberdade religiosa e trabalhar a tolerância para as diversas manifestações;
11. Ter uma participação responsável no uso ético das tecnologias;
12. Ampliação internacional de conexão do local ao global;
13. Promover o diálogo entre cultura e entre gerações;

                            

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